13 de dezembro de 2008

A última vez

Não me lembro mais da última vez que me tocaram daquele jeito. Nem me lembro da última vez que me senti desse jeito, pensei que não conseguisse mais. O tempo me ensinou a evitar riscos, a evitar a dor de algo que realmente não existia, ou existisse mas nunca saberei.

12 de agosto de 2008

Faça melhor...

Antes de mais nada, me desculpe por não estar escrevendo tanto quanto gostaria. Mas cada vez que eu digo isso ainda tenho a sensação que você me aponta o dedo e me diz: "Escreva". Bom, estou escrevendo, não é? Nunca é o suficiente.

Não importa o quanto eu escreva, trabalhe, estude, toque... tem sempre alguém pra dizer "escreva mais, ganhe mais dinheiro, tire notas altas, toque direito..." Como se tudo isso não necessitasse de tempo e energia para ser feito.

Não importa se eu saio de 6h da manhã de casa e chegue às 23h, há sempre alguém que diz com convicção que "nunca falta tempo se for bem administrado!" Como se tudo isso não necessitasse de tempo e energia para ser feito.

Eu sei que eles não me querem mal. O mundo virou mais do que nunca uma selva, e só os mais fortes, os mais rápidos, os mais inteligentes, os mais, conseguem sobreviver.

A situação é tal que a nossa confiança nas pessoas ao nosso redor ficou abalada. Somos todos competidores. Afinal, o cara que está do teu lado pode ser o cara que vai tirar de você aquela vaga, aquela promoção, o teu sonho. E, não sejamos hipócritas, você vai querer se vingar dele - de algum jeito.

O que nos leva ao último "feriado" - e se me permitem, um feriado tão besta que é um domingo - o Dia dos Pais. Uma vez eu escutei a seguinte frase "O dever de um pai é evitar que os filhos cometam os mesmos erros que eles". Ótimo! O problema surge quando os pais não querem que os filhos errem nunca, fazendo com que eles vivam à sombra da experiencia deles.

Bom. Se você quer dar ouvidos, eis algo que você deve ter escutado:
"Estude e faça uma boa faculdade. Trabalhe e ganhe muito dinheiro para mais tarde poder cuidar de uma família."
Isso! E evite que os seus filhos façam o mesmo erro que você: viverem.

Eu amo o meu pai. Apesar de tudo, se ele não tivesse me exigido tanto eu não teria o pensamento que eu tenho hoje.

Obrigado Pai, por me mostrar que eu não preciso ser como você.



Ray precisava desabafar.
Feliz Dia dos Pais

8 de julho de 2008

Oração de Sofrimento...

Senhor

Antes de mais nada Te agradeço por tudo que passo. Agradeço pelas alegrias que já me deste. Agradeço pelas tristezas que também me deste, para que eu conhecesse a alegria.

Pai

Sei que as batalhas dessa vida também vêm de Ti. Mas por quanto tempo ainda tenho que lutar? Estou cansado, estou ferido, estou sujo da lama que me cerca, que me encobre, que me faz sentir parte dela. Sinto a chuva que cai no meu rosto escorrer, misturando-se às lágrimas que a mim pertencem.

Oh Deus

Tu que me escutas mais do que o papel que me sente. Tu que sempre foi mais pai que o meu. Tu que sempre esteve lá para me ajudar sempre que eu não merecia. Peço-Te que me dê a única coisa que me acho digno de pedir: a força para continuar a batalha que eu sei que Tu já me garantiste a vitória.

Dê-me forças para lutar. Dê-me sabedoria para saber como enfrentar os meus inimigos. Dê-me ousadia para dar o melhor de mim. Dê-me o ar para que eu não me sufoque em meio às lágrimas. Dê-me a coragem para fazer crescer a Tua presença em mim. Mostre-me a morte, para que eu reconheça a vida.

Em nome do Teu Filho,
Amém

4 de julho de 2008

Há muito tempo...

Há muito tempo, decidi não me apaixonar mais. Decidi que eu não quero sofrer, não quero mudar, não quero sentir aquele aperto chato no estômago toda vez que vir alguém que, no final das contas, não merece.

Há muito tempo, decidi não escrever poemas. Poesias, a palavra simplesmente pela beleza, efeitos sonoros e fonéticos, ainda me são éticos. Prosas poéticas. Mas o texto em verso me foi proibido por mim mesmo.

Talvez um marco, talvez um ato de maturidade. Mas de vez em vez eu sinto falta disso. Sinto falta de sofrer, sinto falta de escrever. Sinto-me maltratado a cada linha que não vejo. Sinto-me culpado de cada amor que não desejo.

Há muito tempo, decidi apenas escrever poemas quando voltar a me apaixonar. Prometi-me que quem merecesse seria a dona dos meus versos. Confesso que tentei quebrar a promessa. Não consegui. No papel, apenas surgiram lágrimas, nascidas da minha visão molhada.

Há muito tempo, carrego a dor de ter fugido da dor.

9 de maio de 2008

Dilúvio...

Olho pra cima.

Em minha vista apenas a escuridão de uma nuvem e a melancolia de sua chuva. Confundo o chão com o céu enquanto o meu horizonte se torna cada vez mais distante de mim. Dias e dias que do alto desce essa água, molhando a terra, transformando em lama.

Inundado.

Desesperado procuro por um lugar seco. Fugindo da terrível sensação de cair, de afundar, de aos poucos me tornar sujo, escuro, junto à lama. Afogando em meio a esse mundo totalmente coberto por essa mórbida frieza.

Dilúvio.

Não consigo sentir o chão. Será que ele ainda existe? Será que ele já existiu? Não me lembro mais. Agora só penso em nadar, em quanto tempo vai passar até a chuva parar. Quarenta horas? Quarenta dias? Não importa: provavelmente não sobreviverei até lá.



Ray gosta de chuva, apesar de tudo.

7 de março de 2008

Rebobinar...

Eu ainda lembro do que não vivi. Lembro, relembro, e sinto saudades do que ainda não senti. Queria que tudo voltasse a ser como eu sei que não se passou por mim.

Como aquela música que toca na minha vitrola, nos discos empoeirados que outrora estavam aos cuidados da minha mãe. Canções que me tocam toda vez que as toco, letras que me encantam nas vozes de quem as cantam.

Queria minha vida de volta como era uma radio-novela, sendo contada por fabulosos artistas, com os quais não existiam erros, transformavam-os em adaptações, pois não haviam edições. Quero viver minha vida ao vivo.

Que eu a faça uma escultura! Com todas as perfeições e defeitos que eu não consigo mostrar.

Que eu grite: AÇÃO! E dela surja uma aquarela, com todas as cores que eu possa pintar.

E enfim, parar. Tirar fotos de cada ângulo que eu consiga, juntá-las e lembrá-las quadro a quadro, como um filme mudo no silêncio da minha mente. Em preto e branco, como são os meus sonhos.

Que o meu futuro seja exatamente como eu lembro.

22 de fevereiro de 2008

Improvável Texto...

Tentei escrever um texto, não consegui. Cada palavra que escrevi no papel era como uma agulha em mim, cada rima um corte no coração, cada verso guardava a tristeza de uma inversão. Toda a alegria que mostrava era inventada, forjada para me fazer esquecer de sentir tamanha solidão. Só estava, só me sentia, sofria sentindo o frio que a muito tempo não me abatia, e que ecoava por cada canto enquanto no mesmo quarto eu chorava.

Tentei escrever, não consegui, mas senti que meu coração batia por isso. Infinito lirismo me forçava a escrever cada vez mais, não importasse quais ou quantas dores me traz. Isso sim me faz mais, me dá conforto ao saber que venci os confrontos que em silêncio enfrento. Imensos pensamentos nos quais estou imerso.

Tentei escrever, consegui, e então, eu sorri.




Ray escreveu esse texto.

14 de fevereiro de 2008

Crônica de um dia político...

- Número 36?!
- Presunto, professora!

Lembrei-me da terceira série hoje quando fui no local conhecido como "Central do Cidadão" tirar alguns documentos que, por preguiça ou inconsciente repulsa de estar me tornando adulto, ainda não tinha tirado, tais como 2ª Via de Identidade, Título de Eleitor e Carteira de Trabalho. A questão é que me vi deparado com um belo de um paradoxo social.

Vivemos num mundo e sociedade na qual todos querem ser diferentes, se sobre-sair com relação ao que os cercam. Mulheres brigam quando vão com a mesma roupa numa festa, crianças decoram suas agendas, bolsas e outras coisas com adesivos coloridos, sempre pra se sentirem únicas. Toda a nossa sociedade se desenvolve com essa cultura: individualidade.

Mas ao mesmo tempo em que queremos ser diferentes uns dos outros, sempre acabamos nos relacionando mais profundamente com outros "indivíduos" com as mesmas características que as nossas. Os famosos rótulos, por mais que odiados por todos, nunca deixarão de existir por esse motivo.

E se abstrairmos mais um pouco, chegaremos ao meu dia hoje:

- Oi! Eu gostaria de fazer minha Carteira de Trabalho e dar entrada na minha Carteira de Motorista.
- Muito bem. Trouxe o seu CPF? Sem ele não poderemos fazer nada.

No final das contas nossos esforços para sermos diferentes, de termos nossas individualidades, não foi de tanta ajuda assim. Ainda somos apenas mais um número de CPF no PC do Ministério da Fazenda, mais uma estatística no Jornal Nacional, mais um no meio da lista telefônica, mais um ponto no meio do mundo, e ninguém quer saber quem realmente somos. Pelo menos conseguimos uma coisa: temos números diferentes.



Ray é um cidadão.
Ray é igual a você.

26 de janeiro de 2008

Pela Janela...

Eu me mudei recentemente. Depois de umas confusões muito estranhas entre meus pais, acabei parando nessa casa que estou agora. E o que me chamou a atenção nessa nova casa é o meu comportamento com relação a vida alheia, uma vez que meu quarto fica agora no primeiro andar e com uma vista para a rua do lado. Nunca pensei que eu viria a ser tão curioso em saber o que se passa nas casas vizinhas.

Lógico, devo preservar o direito de privacidade que todos nós temos. Mas que ver o comportamento de outras pessoas, do ponto de vista crítico-científico é muito mais interessante do que olhar para uma parede como era na outra casa.

Por exemplo, descobri olhando pela janela que minha rua é cheia de músicos, desde o meu vizinho até os gêmeos no final da rua. O que é deveras interessante pra mim, já que gosto sempre de aprender algo a mais do ponto de vista musical.

Também descobri um outro sentimento desconhecido até agora: vi algumas crianças, devo destacar, crianças dirigindo uma daquelas lambretas da marca Traxx. Não que eu esteja com inveja, não gosto das Traxx's, mas o que não me conformo é como alguns pais têm a coragem de dar uma moto, por mais barato que seja, a jovens que ficam brincando sem atenção ao trânsito em certos momentos. E eu às vezes tendo de mendigar a passagem de volta do ônibus. Acho apenas uma irresponsabilidade.

Talvez eu esteja ficando velho e desenvolvendo meu senso de responsabilidade social-financeira, mas só percebi isso porque olhei pela janela.



Não queira ser vizinho do Ray.
Ray é fofoqueiro.

18 de janeiro de 2008

Uma Bala Perdida...

Me atingiu! Como uma bala perdida que atravessou minha carne e nela encontrou um abrigo, que talvez não saiba o que aconteceu, como aconteceu, de onde foi atirada. Mas mesmo em sua ignorância me feriu. Ignorância, talvez tenha sido esse o seu poder, sua força, sua aerodinâmica. Tinha que me atingir, estava gravado em sua lateral o meu nome. Um nome, era tudo o que sabia. Desconhecia sentimentos, desconhecia caminhos, e modos.

"Mas com tudo isso, eu a proclamei minha cicatriz favorita. Manterei para sempre fechada, manterei selada para sempre, fechada." *

Assim o fiz. Não chorei mais que o necessário. Apenas abracei a dor e a guardei para mim. Agora sei que ela nunca mais sangrará, nunca mais me atormentará. Isso poderá me ser a liberdade: aceitar que estarei preso a ela para sempre, aceitar que fui ferido, sofrido e chorado, aceitar que sou humano.



* Wedding March For A Bullet, música de Diablo Swing Orchestra

11 de janeiro de 2008

Meu céu...

Venha o vento! Arraste-me pra longe! Quero senti-lo rasgando meu rosto enquanto vôo pra longe, enquanto esqueço tudo aquilo que se passou. Quero esquecer o que me feriu, apenas ver minhas feridas tornando-se cicatrizes que me mostrarão que o que se passou não voltará jamais.

Mais alto! Mais alto! Leve-me pra onde eu quero estar: é aqui que eu pertenço. Toda minha vida eu procurei, orei e ansiei pelo momento em que finalmente descobriria o lugar onde Deus realmente quer que eu esteja. E não sairei.

Não pedirei socorro enquanto corro pra longe do chão. Não há necessidade. Só ali nada me impedirá de ser quem eu realmente sou. Estarei liberto do que me prende, estarei coberto de liberdade e ladeado da proteção das nuvens. Escondido. No meu pequeno esconderijo particular.



O meu céu.

3 de janeiro de 2008

Que voz é essa? Que me chama para a realidade, que tenta me acordar desse meu universo cheio de galáxias com planetas e estrelas que cantam a bela canção silenciosa que eu tanto gosto.

Quem é esse que me envolve, me aquece em meio a esse frio e me aponta para aquela luz em meio a escuridão com a qual me acostumei e passei a chamar de lar? Por que tanto trabalho por mim?

Acorde! Chegou a hora! Vá para a luz e mostre e todos aquilo que te tornaste. Surpreenda! Faça todo o tempo valer a pena! Contemple com teus próprios olhos os olhares de cada um daqueles que te conhecem e que novamente vão te ver.

Não! Tenho medo! Faz muito tempo. Irão tirar de mim o que eu tenho protegido, toda a verdade, tudo que eu preciso, minha força e minhas mentiras tão belas. Não as quero perder.

Não a perderás! Sabes a muito tempo o que tu realmente precisa. Todo esse tempo sabias, mas é hora de usar. Criar. Harmonizar o interior e o exterior. Mente e coração, alma e espírito, são agora a mesma coisa, como num casamento perfeito que nunca terá divórcio.

Vamos! Estamos quase lá! Agora abra os olhos e veja. O que tão ansiavas mas não podias procurar.

Abra os olhos e veja...

Lindo não é?