22 de fevereiro de 2008

Improvável Texto...

Tentei escrever um texto, não consegui. Cada palavra que escrevi no papel era como uma agulha em mim, cada rima um corte no coração, cada verso guardava a tristeza de uma inversão. Toda a alegria que mostrava era inventada, forjada para me fazer esquecer de sentir tamanha solidão. Só estava, só me sentia, sofria sentindo o frio que a muito tempo não me abatia, e que ecoava por cada canto enquanto no mesmo quarto eu chorava.

Tentei escrever, não consegui, mas senti que meu coração batia por isso. Infinito lirismo me forçava a escrever cada vez mais, não importasse quais ou quantas dores me traz. Isso sim me faz mais, me dá conforto ao saber que venci os confrontos que em silêncio enfrento. Imensos pensamentos nos quais estou imerso.

Tentei escrever, consegui, e então, eu sorri.




Ray escreveu esse texto.

14 de fevereiro de 2008

Crônica de um dia político...

- Número 36?!
- Presunto, professora!

Lembrei-me da terceira série hoje quando fui no local conhecido como "Central do Cidadão" tirar alguns documentos que, por preguiça ou inconsciente repulsa de estar me tornando adulto, ainda não tinha tirado, tais como 2ª Via de Identidade, Título de Eleitor e Carteira de Trabalho. A questão é que me vi deparado com um belo de um paradoxo social.

Vivemos num mundo e sociedade na qual todos querem ser diferentes, se sobre-sair com relação ao que os cercam. Mulheres brigam quando vão com a mesma roupa numa festa, crianças decoram suas agendas, bolsas e outras coisas com adesivos coloridos, sempre pra se sentirem únicas. Toda a nossa sociedade se desenvolve com essa cultura: individualidade.

Mas ao mesmo tempo em que queremos ser diferentes uns dos outros, sempre acabamos nos relacionando mais profundamente com outros "indivíduos" com as mesmas características que as nossas. Os famosos rótulos, por mais que odiados por todos, nunca deixarão de existir por esse motivo.

E se abstrairmos mais um pouco, chegaremos ao meu dia hoje:

- Oi! Eu gostaria de fazer minha Carteira de Trabalho e dar entrada na minha Carteira de Motorista.
- Muito bem. Trouxe o seu CPF? Sem ele não poderemos fazer nada.

No final das contas nossos esforços para sermos diferentes, de termos nossas individualidades, não foi de tanta ajuda assim. Ainda somos apenas mais um número de CPF no PC do Ministério da Fazenda, mais uma estatística no Jornal Nacional, mais um no meio da lista telefônica, mais um ponto no meio do mundo, e ninguém quer saber quem realmente somos. Pelo menos conseguimos uma coisa: temos números diferentes.



Ray é um cidadão.
Ray é igual a você.