
Muita gente confunde paixão com amor, até porque eles andam sempre próximos. Eu gostaria de conseguir diferenciar na prática esses dois. Na teoria eu sei o que cada um significa, mas conhecimento sem a prática não é muita coisa. Eis o que eu sei:
Paixão é um sentimento por uma pessoa que nos faz mudar o nosso jeito de viver por uma outra pessoa. Muitas vezes é passageira, como uma chuva de verão. É loucura, a qual nós supervalorizamos sem a mínima necessidade. É fogo em palha.
Amor nos faz gostar dessa pessoa independente de quem nós somos ou de quem ela é. É um dilúvio em nossos sentimentos e na nossa vida. Na maioria das vezes nós não damos a importância necessária para manter-lo vivo. É fogo que arde sem se ver.
Nossas vidas seriam menos bagunçada se soubéssemos diferenciar e, assim, usar esses sentimentos a nosso favor. Porém uma vida sem as surpresas do coração seria muito tediosa, e o ciclo vital sem sentido. Falando nisso, gostaria de compartilhar um poema que mostra isso muito bem. Ele é meio grande mas vale a pena ler.
Se se morre de amorde Gonçalves Dias Se se morre de amor! - Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende
De ruidoso sarau entre os festejos;
Quando luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n'alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve e no que vê prazer alcança!
Simpáticas feições, cintura breve,
Graciosa postura, porte airoso,
Uma fita, uma flor entre os cabelos,
Um quê mal definido, acaso podem
Num engano d'amor arrebentar-nos.
Mas isso amor não é; isso é delírio
Devaneio, ilusão, que se esvaece
Ao som final da orquestra, ao derradeiro
Clarão, que as luzes ao morrer despedem:
Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,
D'amor igual ninguém sucumbe à perda.
Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração - abertos
Ao grande, ao belo, é ser capaz d'extremos,
D'altas virtudes, té capaz de crimes!
Compreender o infinito, a imensidade
E a natureza e Deus; gostar dos campos,
D'aves, flores,murmúrios solitários;
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
E ter o coração em riso e festa;
E à branda festa, ao riso da nossa alma
fontes de pranto intercalar sem custo;
Conhecer o prazer e a desventura
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
O ditoso, o misérrimo dos entes;
Isso é amor, e desse amor se morre!
Amar, é não saber, não ter coragem
Pra dizer que o amor que em nós sentimos;
Temer qu'olhos profanos nos devassem
O templo onde a melhor porção da vida
Se concentra; onde avaros recatamos
Essa fonte de amor, esses tesouros
Inesgotáveis d'lusões floridas;
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compreender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar os seus vestidos,
Arder por afogá-la em mil abraços:
Isso é amor, e desse amor se morre!